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Blog - Para Quê? Como? Quanto? Onde? – Parte 3: Quanto?

Para Quê? Como? Quanto? Onde? – Parte 3: Quanto?

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Começámos há meses a abordar estas perguntas fundamentais sobre gestão de risco, falando no para quê (que, embora mascarado de diversas formas, é sempre em primeiro lugar para a nossa salvaguarda financeira) e no como (e na necessidade de uma inventariação exaustiva dos riscos que nos expõem, ainda que muito improváveis, para depois discuti-los com quem perceba das diversas matérias e também com quem perceba de seguros).

A terceira pergunta – o quanto – é bastante difícil responder nalguns casos. Não vamos falar muito dos seguros de Património, onde existem critérios objetivos e amplamente divulgados que auxiliam na resposta à pergunta. Importante é que se segure pela totalidade desses valores e não comprar menos para poupar um pouco. A não ser que em caso de sinistros total queira depois ficar apenas com meia casa ou meia fábrica ou metade das máquinas. Importante também que a apólice tenha flexibilidade para flutuações de valor e isso é especialmente importante se forem stocks ou ativos de valor volátil (metais preciosos e obras de arte são bons exemplos).

No Património vale sim a pena perder algum tempo com a franquia, porque se pensa pouco no que se está a comprar. Existe sempre a ideia que as opções por franquias baixas são boas mas essa ideia é, do ponto de vista financeiro, um equívoco. Os seguros são um negócio com fins lucrativos e transferir pequenos sinistros para uma Seguradora acarreta um enorme desperdício porque a Seguradora vai:

1) ter custos para regulariza-los (regularizar um sinistro de 100 euros pode bem custar-lhe 300 ou 400);

2) adicionar todas as despesas gerais, que são muitas;

3) adicionar uma margem de lucro;

4) por fim, como em tudo na vida, a fatalidade dos impostos que vai adicionar e que também não são poucos. As franquias devem então ser escolhidas na medida da dimensão do nosso cash-flow corrente: posso suportar os sinistros que não me estorvem a gestão financeira corrente sem ter que recorrer a novos empréstimos ou outros mecanismos de financiamento. Há uma exceção, que não vamos desenvolver porque daria outro artigo, que é o dos pequenos sinistros onde ainda assim a Seguradora consegue acrescentar valor pela prestação do serviço (se lhe põe um canalizador em casa num Domingo, em poucas horas e de forma gratuita, então talvez já valha a pena, só para ilustrar um exemplo fácil de se perceber).

Bastante mais difícil é responder ao quanto nos seguros de Responsabilidade Civil (nas franquias o princípio é o mesmo do exposto acima). O custo dos prejuízos que causamos a lesados terceiros são bastante mais difíceis de estimar. A fatura da litigância pode também ser pesada em custos de tribunais e com advogados. Frequentemente os clientes perguntam quanto devem segurar? Isso só mostra o quão impreparados estão para o que estão a comprar. Com algumas exceções, os clientes têm obrigação de sabê-lo melhor que nós, mas percebe-se que investem pouco tempo nesse exercício. Frequentemente seguram possíveis desastres ambientais com um capital de poucos milhares de euros e ninguém no seu perfeito juízo poderá achar isso adequado. Ou o profissional independente que trabalha como consultor de uma grande multinacional. Os prejuízos que pode causar ao seu cliente são colossalmente superiores à sua capacidade financeira ou ao valor do seu contrato. Há quem tente limitar a responsabilidade ao valor do contrato o que servirá de pouco conforto para todos, se o pior acontecer. Ou ainda o caso de uma grande empresa pedir para garantir os seus erros profissionais por 1 ou 2 milhões de euros quando trabalham em projetos de dezenas de milhões ou para centenas de milhares de clientes. Cada cliente é um potencial reclamante, imagine que tem de indemnizar todos pela perda de dados pessoais? Ou por incumprimento no serviço? Já para não falar que esse 1 milhão ou 2 é um nível de risco que se calhar podem reter sem a ajuda da Seguradora – lá está, devia nalguns casos ser a franquia e não o capital seguro! Os seguros são em primeiro lugar para os eventos extremos, aqueles que colocam em risco toda a nossa capacidade financeira.

Um gestor de risco tem de se fazer estas perguntas todas e só assim vai chegar a alguma conclusão sobre que capital de seguro precisa de contratar. O mundo em que vivemos não se compadece com amadorismos e gestões de riscos levianas. Grandes conquistas não vêm normalmente sem grandes riscos e, também aqui, temos todos de deixar de pensar em pequeno.

Leia aqui os restantes artigos desta serie:
Parte 1: Para quê?
Parte 2: Como?

Por Gonçalo Baptista, Diretor geral

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