Chegados a esta altura do ano é normal começarmos a ser bombardeados com pedidos de estimativas para o ano seguinte, de recursos que são necessários e, de x em x anos, de visões para o futuro da empresa.
Chegados a este ponto convém relembrar que dentro de uma empresa devemos ser todos iguais em direitos e todos diferentes em feitio. De facto, quanto mais diversidade tem uma empresa maior número de opções se lhe abre. E ideias.
Mas nem todos nos sentimos cómodos em desempenhar determinadas tarefas. E uma delas é imaginar o futuro. Ou ter uma visão.
Antes que seja acusado de fazer astrologia (uma piadola dos gestores sobre o que efetivamente fazem os economistas) é preciso explicar a importância de uma empresa ter uma visão bem definida.
Uma visão diz-nos para onde vamos e o que queremos ser quando lá chegarmos. Mas também une toda uma equipa atrás de um propósito. De algo a que queremos pertencer.
Ter uma visão que inspire não é assim tão fácil. Mas há quem tenha jeito para a coisa. Regra geral, o líder.
Mas chegar lá ainda é menos. E passo a explicar.
Uma visão que faça sentido tem de ter uma data de concretização. Regra geral a 5 anos, mas podem ser mais ou menos. Mas é preciso chegar lá através de um caminho razoavelmente bem definido. Ninguém se atira do penhasco se não tiver a certeza que lá em baixo há um colchão.
É preciso um plano da rota. Do caminho. Dos passos necessários a dar.
E, regra geral, de alguém diferente do visionário acima citado. Porque, e volto a reforçar este ponto, não somos todos iguais numa empresa. E ainda bem.
Para cada John Lennon é necessário um Paul McCartney que crie uma linha de baixo e carregue a música. E sim, até um Ringo Starr para o trabalho braçal.
(Nota: se não sabem quem são estes tipos tenho pena de vocês. E googlem).
Ou seja, todos temos o nosso papel numa banda e juntos somos muito mais que a soma das partes no que concerne ao futuro desta.
O plano normalmente consiste em descrever os passos que vamos dar, de uma forma anual, até chegarmos à visão no momento (ano) definido. O problema, muitas vezes, é que começamos no momento atual da empresa e, quando chegamos ao ano imediatamente anterior ao da visão, estamos demasiado longe desta.
Ou porque não medimos a dimensão necessária dos passos que temos que dar ou porque, como se costuma dizer, “o caminho faz-se caminhando”. O que em português corrente quer dizer que chegamos quando chegarmos, não sabemos bem é onde nem quando.
Já para não falar de quem desenha os planos ao ano, sem estar de olho no objetivo final, e avança aos ziguezagues conforme o que vai acontecendo.
E muita coisa acontece: perda de talentos que julgamos fundamentais, dificuldades de contratação, guerras, pandemias, o Sporting ganhar o campeonato… No fundo tudo nos pode desviar do caminho que julgamos estar a ir na direção da visão que partilhamos, mas que na verdade nos leva a outro sítio qualquer.
O que não quer dizer que a visão não possa ter de ser ajustada. Mas não deveria ser substituída, sob pena de perder a fé dos crentes nela. E no líder.
No meu caso, como fervoroso adepto da teoria (ou facto) de que o George Harrison é o melhor Beatle, sempre que me pedem este tipo de exercício acabo por o fazer ao contrário do que seria esperado.
Começo do ponto onde quero chegar.
E vou recuando os meus passos sugeridos até chegar ao momento atual.
Isto permite-me gerir melhor os tempos e aperceber-me mais facilmente de se chego lá ou não.
Porque chego a um ponto, a um ano de distância, que me vai ajudar a definir o que tem de ser o próximo ano se quero chegar à visão em x tempo. E a que distância efetivamente estou de um percurso com poucos percalços.
Se à distância de um ano ainda estou muito longe do que preciso então sei que medidas mais difíceis terão de ser tomadas, e quais.
E, perante o líder e os meus colegas, posso apresentar o custo de chegar a essa visão. E podemos decidir de início se o mesmo é algo que estamos dispostos a pagar para lá chegar.
Deixando para o fim não temos outro remédio que não pagá-lo ou desistir de chegar à visão.
Se o difícil for ao início podemos nem partir. E rever o sonho sem nos custar vários pesadelos.
Os imponderáveis irão continuar a acontecer. Mas estaremos melhor preparados para eles.
Mais unidos e determinados.
E certos de que este é o caminho.
Por Rui Ferraz, Diretor Comercial